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Feridas

Atualizado: 5 de abr. de 2022

O processo terapêutico é muito parecido com o processo de cuidado de uma ferida. Às vezes nos machucamos, outras caímos, tropeçamos e ralamos o joelho. Algumas vezes alguém nos empurra e machucamos o braço, o cotovelo. Ou então batemos o carro. Enfim, uma série de coisas que não temos como prever acontecem e essas coisas deixam machucados em nós que precisamos cuidar.



Da mesma forma nas nossas relações, ou conforme vamos simplesmente vivendo a vida, uma série de feridas nos marcam e machucam, e nem sempre escolhemos ou fazemos por onde, mas essas coisas passam a fazer parte de nós e é nossa responsabilidade cuidar desses machucados. Só que acabamos ignorando, deixando para lá, não conseguimos olhar para aquele machucado tão feio e aberto. E aí colocamos qualquer curativo em cima e vamos viver a vida. No entanto, quando algumas áreas da nossa vida começam a se desestabilizarem ou não funcionarem por conta desse machucado, nós raramente associamos: se machucamos o braço e estamos tentando levantar alguma coisa pesada, mas esse braço machucado não tá funcionando muito bem, colocamos a culpa em uma série de fatores, mas não no fato de que estamos ignorando um machucado, uma ferida que está aberta em nós.


Então, nesse sentido, o processo terapêutico é bem dolorido, por que ele propõe que olhemos para essas feridas. E é bem feio num primeiro momento: nos assustamos, ficamos com um pouco de nervoso, porque ela tá aberta, talvez inflamada e ela tá sangrando. É angustiante olhar para isso, mas precisamos olhar até para saber o que fazer, como trabalhar. Então, conforme vamos avançando nesse processo, nós precisamos colocar a mão nessa ferida e aí sim é a parte mais dolorida... por que temos que mexer nela para poder lavar, limpar. Às vezes até precisamos deixar sangrar um pouco para ajudar a tirar essa inflamação que se criou. E depois disso é colocar remédio todos os dias, ter o trabalho de tirar o curativo, limpar a ferida, colocar remédio e refazer o curativo, respeitar os limites que aquela ferida impõe em nós para que ela não se abra de novo ou não piore e esperar.


Trabalhar e esperar, até que essa ferida começa a se fechar, e talvez não precisemos mais usar remédio, só continuar limpando. O curativo não precisa mais ser tão grande, podemos colocar um bandaid no lugar, talvez... E ela começa a doer menos, incomodar menos, até que chega um momento em que ela cicatriza. Essa ferida, ela se torna uma marca em nós que sempre vai estar ali, nós sempre iremos olhar e nos lembrar daquele tombo, daquele acidente.


Só que não dói mais.


 
 
 

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